Nascido numa pequena cidade da Prússia, Konigsberg, atual Kalinigrado, no dia 22 de abril de 1724, Kant foi o quarto dos nove filhos de Regina e Johann Georg Kant, artesão humilde, que trabalhava com artigos de couro. Nascido numa família protestante (Luterana), teve uma educação austera numa escola pietista, que frequentou graças à intervenção de um pastor. Ele próprio foi um cristão devoto por toda a sua vida. Passou grande parte da juventude como estudante, sólido mas não espetacular, preferindo o bilhar ao estudo. Tinha a convicção curiosa de que uma pessoa não podia ter uma direção firme na vida enquanto não atingisse os 39 anos. Com essa idade, era apenas um metafísico menor numa universidade prussiana, mas foi então que uma breve crise existencial o assomou. Pode argumentar-se que teve influência na posterior direção. Estudou no Colégio Fridericianum e na Universidade de Konigsberg; nesta última tornou-se professor catedrádico, depois de alguns anos como preceptor de filhos de famílias ricas.
Kant foi um respeitado e competente professor universitário durante quase toda a vida, mas nada do que fez antes dos 50 anos lhe garantiria qualquer reputação histórica. Viveu uma vida extremamente regulada: o passeio que fazia às 15:30 todas as tardes era tão pontual que as mulheres domésticas das redondezas podiam acertar os relógios por ele.
Kant não casou nem teve filhos. Faleceu a 12 de fevereiro de 1804, sem jamais ter saído da cidade em que nasceu. Era um homem extremamente metódico, de pequena estatura e físico frágil.
Outros acontecimentos relatados sobre sua vida (a impressão causada pela leitura das obras de David Hume (1711-1776), a admiração incontida pelo pensamento de Rousseau (1712-1778), a timidez ao proferir a primeira aula) são todos os episódios com um único denominador comum: um cérebro que passou a vida investigando o universo espiritual do homem, à procura de seus fundamentos últimos, necessários e universais.
Por volta de 1770, com 46 anos, Kant leu a obra do filósofo escocês David Hume. Hume é por muitos considerados um empirista ou um cético, muitos autores o consideram um naturalista. Kant sentiu-se profundamente inquietado. Achava o argumento de Hume irrefutável, mas as conclusões inaceitáveis. Durante 10 anos não publicou nada e, então, em 1781 publicou o massivo “Crítica da Razão Pura”, um dos livros mais importantes e influentes da moderna filosofia.
Ponto de convergência do pensamento filosófico anterior, a obra de Kant constitui, ao mesmo tempo, fonte da qual brota a maior parte das reflexões dos séculos XIX e XX. Neste livro (Crítica da Razão Pura), ele desenvolveu a noção de um argumento transcendental para mostrar que, em suma, apesar de não podermos saber necessariamente verdades sobre o mundo “como ele é em si”, estamos forçados a percepcionar e a pensar acerca do mundo de certas formas: podemos saber com certeza um grande número de coisas sobre “o mundo como ele nos aparece”. Por exemplo, que cada evento estará causalmente conectado com outros, que aparições no espaço e no tempo obedecem a leis da geometria, da aritmética, da física, etc.
A Crítica da Razão Pura se situa em permanente discussão com seus predecessores mais ilustres – Descartes, Leibniz, Spinoza… -, bem como com seus contemporâneos, a começar por Hume. É impossível ler adequadamente Nietzsche, Husserl, Heidegger ou Arendt sem ter uma boa compreensão da Crítica da Razão Pura.
Nos cerca de vinte anos seguintes, até a morte em 1804, a produção de Kant foi incessante. O seu edifício da filosofia crítica foi completado com a Crítica da Razão Prática, que lidava com a moralidade de forma similar ao modo como a primeira crítica lidava com o conhecimento; e a Crítica do Julgamento ou do Juízo, que lidava com os vários usos dos nossos poderes mentais, que não conferem conhecimento factual e nem nos obrigam a agir: o julgamento estético (do Belo e Sublime) e julgamento teleológico (Construção de Coisas Como Tendo “Fins”). Como Kant os entendeu, o julgamento estético e teleológico conectam os nossos julgamentos morais e empíricos um ao outro, unificando o seu sistema.
Uma das obras, em particular, atinge hoje em dia grande destaque entre os estudiosos da filosofia moral. A Fundamentação da Metafísica dos Costumes é considerada por muitos filósofos a mais importante obra já escrita sobre a moral. É nesta obra que o filósofo delimita as funções da ação moralmente fundamentada e apresenta conceitos como o “Imperativo categórico” e a “Boa vontade”.
Os trabalhos de Kant são a sustentação e ponto de início da moderna filosofia alemã; como diz Hegel, frutificou com força e riqueza só comparáveis à do socratismo na história da filosofia grega. Fitche, Hegel, Schelling, Schopenhauer, para indicar apenas os maiores, inscrevem-se na linhagem desse pensamento que representa uma etapa decisiva na história da filosofia e está longe de ter esgotado a sua fecundidade.
Kant escreveu alguns ensaios medianamente populares sobre história, política e a aplicação da filosofia à vida. Quando morreu, estava a trabalhar numa projetada “quarta crítica”, por ter chegado à conclusão de que seu sistema estava incompleto; este manuscrito foi então publicado como Opus Postumum. Morrera, como dito anteriormente, em 12 de fevereiro de 1804 na mesma cidade que nascera e permanecera durante toda sua vida.
OBRAS:
1755 – História Geral da Natureza e Teoria do Céu;
1763 – O Único Argumento Possível para uma Demonstração da Existência de Deus;
1766 – Sonhos de um Visionário, Interpretado Mediante os Sonhos da Metafísica;
1770 – Dissertação sobre a Forma e os Princípios do Mundo Sensível e do Mundo Inteligível;
1781 – Crítica da Razão Pura;
1783 – Prolegômenos a Qualquer Metafísica Futura que Possa Vir a Ser Considerada como Ciência;
1785 – Fundamentação da Metafísica dos Costumes;
1770 – Dissertação sobre a Forma e os Princípios do Mundo Sensível e do Mundo Inteligível;
1781 – Crítica da Razão Pura;
1783 – Prolegômenos a Qualquer Metafísica Futura que Possa Vir a Ser Considerada como Ciência;
1785 – Fundamentação da Metafísica dos Costumes;
1786 – Primeiros Princípios Metafísicos da Ciência Natural;
1788 – Crítica da Razão Prática;
1790 – Crítica do Julgamento ou do Juízo ou da Faculdade de Julgar;
1793 – A Religião nos Limites da Simples Razão;
1796 – A Paz Perpétua;
1797 – Doutrina do Direito;
1797 – A Metafísica da Moral;
1798 – Antropologia do Ponto de Vista Pragmático.
Fonte: CHAUÍ, Marilena de Souza. Crítica da Razão Pura. Coordenação Editorial de Janice Florido. Chefe de Arte Ana Suely Dobón. Paginação Nair Fernandes da Silva. Tradução Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1999. Vida e Obra.
1788 – Crítica da Razão Prática;
1790 – Crítica do Julgamento ou do Juízo ou da Faculdade de Julgar;
1793 – A Religião nos Limites da Simples Razão;
1796 – A Paz Perpétua;
1797 – Doutrina do Direito;
1797 – A Metafísica da Moral;
1798 – Antropologia do Ponto de Vista Pragmático.
Fonte: CHAUÍ, Marilena de Souza. Crítica da Razão Pura. Coordenação Editorial de Janice Florido. Chefe de Arte Ana Suely Dobón. Paginação Nair Fernandes da Silva. Tradução Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1999. Vida e Obra.
FERRY, Luc. Uma leitura das três “Críticas”. Tradução de Karina Jannini. 2 ed. Rio de Janeiro: ed. DIFEL, 2010. 336 p. Versão brasileira de Luc Ferry do original francês.
KANT, Immanuel. Vida, filosofia e obras. Disponível
em: . Acesso em: 14 mai. 2011, 10:45:30.
KANT, Immanuel. Vida, filosofia e obras. Disponível
em: . Acesso em: 14 mai. 2011, 10:45:30.
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