Portal Filosófico A Anatomia do Estado Murray Rothbard Como o Estado se Eterniza

Como o Estado se Eterniza? – A Anatomia do Estado – Parte 3

Compartilhar

Murray Rothbard – 1926 a 1995 – aborda em sua obra “A Anatomia do Estado”, definições a respeito do que a instituição Estado é (O Que o Estado É? – Parte 2), e não é (O Que o Estado Não É? – Parte 1), para nós. Além de tópicos sobre como o Estado se eterniza nas sociedades, como ele transcende os seus próprios limites, impostos por si mesmo, o que o Estado teme, dentre outros pontos importantíssimos.

O Modus Operandi da Dominação

Quando um grupo dominante consegue vencer uma guerra, para não apenas espoliar, mas tornar o grupo vencido, escravo, é necessário que seja estruturado um sistema de governo, considerado válido e implicitamente aceito pelo grupo dominado. Para que então, os dominantes possam ficar no poder por mais tempo e sem esforços.

O apoio dos súditos não precisa ser de euforia ou falsidade, mas geralmente é:

… uma resignação passiva, como se se tratasse de uma lei inevitável da natureza.

Muitas vezes o grupo dominante, após ou durante a estrutura do seu sistema, propõe uma falácia como argumento a favor do seu status governamental. Oferecem uma suposta proteção, para que outros grupos ou tribos, não façam exatamente o que eles fizeram, e em troca desta “proteção”, eles usurpam uma porcentagem da produção dos seus súditos. Assunto bem abordado na Parte 2, sobre o meio político de aquisição de riquezas.
É importante informá-los que não estamos falando apenas de tribos consideradas primitivas, ou do sistema feudal e medieval. Estamos falando exatamente da nossa atual posição no mundo, e da nossa aceitação, ainda que tímida e morna. Mas que nos acorrenta como escravos de governantes, através da suposta oferta de serviços, proteção contra exploração de outras nações, o conhecido protecionismo, que de nada serve, a não ser deixar uma nação cada vez mais pobre e fechada. Vide Cuba, Venezuela, dentre outros países protecionistas. Em troca de um percentual da sua produção, do suor do seu trabalho.
É comprovado que o brasileiro trabalha cerca de 150 dias por ano, apenas para pagar impostos, tributos, para que os seus “representantes” possam colocar os filhos nas melhores escolas, viajarem sem se preocupar, consultarem-se nos melhores hospitais do país, e quem paga a conta é você.
Políticos defendem os serviços públicos nos palanques, mas deles não se utilizam, porque sabem que o seu discurso não passa de uma mentira deslavada, que muitos ainda acreditam.

Como Assegurar o Apoio?

Para garantir a governança, o Estado positiva leis que sejam de seu interesse, assim como cria um aparato estatal, através de membros subornados ou que tenham interesse em participar do espólio. Obviamente, muitos seguidores serão fervorosos nesta nova estrutura, e farão o papel de convencer a massa, o povo, os amigos, sobre esta nova “ideologia”.

A promoção desta ideologia entre o povo é a tarefa social vital dos “intelectuais”. Pois as massas não criam as suas próprias ideias, ou sequer pensam de maneira independente sobre estas ideias; elas seguem passivamente as ideias adotadas e disseminadas pelo grupo de intelectuais.

Portal Filosófico A Anatomia do Estado Murray Rothbard Como o Estado se Eterniza Como Assegurar o Apoio

A tecnologia avançou de tal forma, que qualquer pessoa é considerada formadora de opinião, ou como diz o termo mais conhecido atualmente, “influencer”. Há anos atrás a influência vinha apenas através do rádio, da TV ou dos jornais, muitos que estão lendo este artigo, não sabem exatamente como era não ter o seu entretenimento favorito à disposição a qualquer hora e lugar.

A Lei Rouanet (8.313/91) é uma das formas atuais, de como o Estado se utiliza do seu dinheiro, para promover a mentira sobre si mesmo. Utilizam artistas como forma de fomentar ideais políticos e tóxicos para os indivíduos, mas infelizmente muitos se deixam convencer pelo rosto bonito do ator, ou pela simpatia da jornalista.
As pessoas em geral, não têm o menor interesse em assuntos intelectuais, ou vontade de sair do comodismo da sua escravidão. Como diz o Immanuel Kant no Aufklärung –  O Que É o Esclarecimento?

O estado, por outro lado, está disposto a oferecer aos intelectuais um nicho seguro e permanente no seio do aparato estatal; e, consequentemente, um rendimento certo e um arsenal de prestígios. E os intelectuais serão generosamente recompensados pela importante função que executam para os governantes do estado, grupo ao qual eles agora pertencem.

Aprendemos na escola, através da cartilha estatizada do MEC, exatamente o que querem que aprendamos, e nada mais.

Outra venerável instituição é a do historiador oficial — ou o historiador “da corte” —, dedicada a difundir a visão dos governantes acerca das suas ações e das dos seus predecessores.

Ungido por Deus

Existem duas linhas de argumentos que apoiam o Estado como legítimo:
A primeira diz respeito a sabedoria, grandiosidade e até mesmo divindade do governante. Como bem se sabe que a união entre Igreja e Estado, foi um dos impérios mais bem sucedidos. Porém, bem sucedidos para quem estava no poder, e não para o indivíduo produtor do seu sustento, que pagava as contas e as regalias dos seus pseudo-heróis. Sobre a sabedoria e inteligência de políticos, acredito que todos nós sabemos o quanto são ignorantes, e agem em seus próprios interesses.
O segundo argumento, coloca o governo em um patamar de inevitabilidade, de absoluta necessidade, como o modelo mais bem estruturado para a convivência em sociedade. Caso você tenha lido a Parte 1 e a Parte 2 da Anatomia do Estado, já compreende o equívoco deste argumento, e sabe que o Estado é apenas um sistema que serve de manipulação de massa, tolhe a nossa liberdade, e procura garantir o seu sustento, mesmo que para isso precise prender ou matar um indivíduo inocente.
Além disso, se um país declara guerra a outro, os governantes, através dos seus “intelectuais” convenceriam as pessoas de que o ataque está sendo dirigido a elas e não aos seus governantes. Quem iria para a guerra em defesa de outros, se soubessem que a guerra não tem nada a ver com a sua vida?! Esse é um dos motivos da existência do patriotismo, a mentira em forma de amor à pátria, que políticos têm vergonha de chamar de medo.

… no Ocidente, apenas em séculos mais recentes; não há muito tempo, a massa de súditos olhava para as guerras como batalhas irrelevantes entre diversos grupos de nobres.

A Tradição

Portal Filosófico A Anatomia do Estado Murray Rothbard Como o Estado se Eterniza Tradição Indivíduo

A tradição é uma das armas mais poderosas do Estado, em favor de si mesmo. As dinastias se mantêm por séculos, devido o sustento da tradição.
Qualquer voz isolada, com ideias independentes, é considerada traidora da tradição, violadora dos bons costumes, e é facilmente calada, sem muito alarde.
Como vocês devem ter percebido, muitas vezes citamos a palavra “indivíduo”, e isso tem uma razão específica. O Estado preconiza e exalta a coletividade, mira em certas classes quando querem seus votos malditos, e inculca na mente das massas, que o indivíduo é quase um profano, que o indivíduo não pode ter voz, e não deve ter razão nunca. E infelizmente, não se percebe que quem faz parte da massa coletiva, até mesmo de uma classe X ou Y, são indivíduos completamente diferentes, cada um com as suas peculiaridades, sonhos e vontades.
Mas fica uma pergunta: É mais fácil igualar as pessoas e manipular uma grande parte da população de uma vez só, como se estivesse falando com um único indivíduo, ou influenciar cada indivíduo separadamente?!

Como Murray Rothbard diz com autoridade:

A ideia nova, e principalmente a ideia nova e crítica, só pode ter início como uma pequena opinião minoritária; como tal, o estado tem de cortar a ideia pela raiz, ridicularizando qualquer ponto de vista que desafie a opinião das massas. “Dê ouvido apenas aos seus irmãos” ou “Aja conforme a sociedade” tornam-se assim as armas para esmagar a dissensão individual. Através destes meios, as massas nunca vão descobrir que o rei está nu.

H. L. Mencken a respeito da nudez do rei:

Tudo o que o governo consegue ver numa ideia original é o potencial para a mudança, e dessa forma uma invasão das suas prerrogativas. O homem mais perigoso, para qualquer governo, é o homem que é capaz de pensar por si mesmo acerca dos assuntos, sem ter em conta as superstições e os tabus prevalecentes. Quase inevitavelmente, ele chega à conclusão que o governo sob o qual vive é desonesto, louco e intolerável, e por isso, se for um aventuroso, ele tenta mudá-lo. E mesmo que ele próprio não seja aventuroso, ele é muito capaz de espalhar o descontentamento entre aqueles que o são.

Determinismo Historiográfico x Livre Arbítrio Individual

Aqui a voz do Murray Rothbard ao alto e bom som:

Se a Dinastia X nos governa é porque as Inexoráveis Leis da História (ou a Vontade Divina, ou o Absoluto, ou as Forças Materiais Produtivas) assim determinaram, e nada que uns indivíduos insignificantes possam fazer será capaz de alterar este decreto inevitável. É também importante para o estado inculcar nos seus súditos uma aversão a qualquer “teoria da conspiração da história”, pois uma busca por conspirações significa uma busca por motivos e uma atribuição de responsabilidade por delitos históricos. Se, contudo, qualquer tirania imposta pelo estado, ou corrupção, ou agressão militar, foi causada não pelos governantes estatais, mas sim por “forças sociais” misteriosas e ocultas, ou pelo arranjo imperfeito do mundo, ou, se de alguma forma, todos foram responsáveis, então não há qualquer razão para as pessoas ficarem indignadas ou se insurgirem contra tais delitos. Ademais, um ataque às “teorias da conspiração” tem como objetivo fazer com que os súditos se tornem mais crédulos em relação às razões de “bem-estar geral” que são sempre apresentadas pelo estado como justificativa para os seus atos despóticos. Uma “teoria da conspiração” pode perturbar o sistema ao fazer com que o público desconfie da propaganda ideológica do estado.

Além disso, a culpa pode ser utilizada como método para manter os súditos na linha. Qualquer aumento do bem-estar privado, pode ser considerado como ganância, materialismo inaceitável, riqueza excessiva. O lucro pode, e é atacado como exploração das classes menos favorecidas, mas “esquecem” que o desemprego é gerado pelo Estado, e não por empresas privadas ou patrões malvadões.
Quase em sua totalidade, a intenção do Estado é sugar mais do setor privado e desviar o dinheiro da produção para o setor público, diga-se de passagem, setor que nada produz. São apenas ladrões e espoliadores da riqueza dos produtores e trabalhadores. A incapacidade dos governantes estatais em realizar trocas voluntárias é tão grande, que o parasitismo permanece como uma forma mais elevada e moralmente aceita, do que o trabalho pacífico e produtivo.

Os Especialistas

A Ciência, desde a virada filosófica da Idade Moderna, tem se tornado o novo deus do século. Obviamente que a Ciência tem sido um dos pilares para a evolução tecnológica, e sem ela eu não estaria escrevendo este post em um computador agora. Além disso, a tecnologia é uma coluna forte para a ampliação do pensamento libertário e da libertação individual das amarras do Estado.
Porém, o Estado se utiliza da Ciência, através dos “especialistas”, para corroborar a ideologia coletivista e determinista. Os jargões científicos auxiliam os “intelectuais” do Estado a tecer justificativas obscuras a respeito do domínio estatal. Justificativas aceitas sem críticas pela população, algo que seria recebido com zombaria em uma época mais simples, cientificamente falando. Um dos exemplos é o assalto da nossa propriedade e do nosso dinheiro, com a “bela” justificativa de que os recursos estão sendo usados a nosso favor.

Um assaltante que justificasse o seu roubo dizendo que na verdade ajudou as suas vítimas, pois o gasto que fez do dinheiro trouxe um estímulo ao comércio, teria convencido pouca gente; mas quando esta teoria se veste com equações keynesianas e referências impressivas ao “efeito multiplicador”, ela infelizmente é recebida com maior respeito. E assim prossegue o ataque ao bom senso, em cada época realizado de maneira diferente.

Assim o Estado tenta se legitimar frente aos indivíduos, que eles chamam de classes, impressionando a massa com a sua mirabolante argumentação, para distinguir suas atividades das praticadas por uma quadrilha de mafiosos.
O Estado utiliza diversas armas contra o indivíduo, em favor de si mesmo. Finalizamos este post com uma bela colocação de Mencken:

O homem comum, quaisquer que sejam as suas falhas, pelo menos vê claramente que o governo é algo que existe à parte de si e à parte da maioria dos seus concidadãos — que o governo é um poder separado, independente e hostil, apenas parcialmente sob o seu controle e capaz de prejudicá-lo seriamente. Não é por acaso que roubar o governo é visto em geral como um crime de menor magnitude do que roubar um indivíduo, ou até mesmo uma empresa. O que está por trás desta visão, creio eu, é a profunda noção de que há um antagonismo fundamental entre o governo e as pessoas que ele governa. O governo é tido não como um comitê de cidadãos eleitos para resolver os problemas comuns de toda população, mas sim como uma corporação autônoma e separada, dedicada principalmente à exploração da população para benefício dos seus próprios membros. Quando um cidadão é roubado, uma pessoa digna foi privada dos frutos do seu esforço e poupança; quando o governo é roubado, o pior que acontece é que uns patifes ociosos ficam com menos dinheiro para brincar do que tinham antes. A noção de que mereceram ganhar esse dinheiro não passa pela cabeça de ninguém; afinal, para qualquer pessoa sensata, esta ideia é ridícula.

2 respostas para “Como o Estado se Eterniza? – A Anatomia do Estado – Parte 3”

  1. Avatar de Bernardo
    Bernardo
    1. Avatar de Olavo de Carvalho
      Olavo de Carvalho

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *